sexta-feira, 22 de abril de 2011

Reforma política


 Agora é a vez da reforma política. Agora é hora de mudar o que há de mais amoral no sistema político brasileiro e não podemos deixar que nossos anseios sejam mais uma vez sufocados por uma elite opressora que não cansa de nos subjugar.
Este é o discurso adotado pelos magistrados e legisladores que propuseram a reforma, ansiosamente aguardada pelo povo. É um discurso de glória, quase um brado de independência. É mais que o clamor de uma reforma, segue moldes de revolução.
Ora, quais de nós conhecemos profundamente os temas abordados no salvador projeto reformista? Estamos preparados para tomar uma decisão de apoio ou não sem que tenhamos um profundo conhecimento a respeito da causa que nos convém?
Deve ser respeitado o direito individual de crítica, entretanto devemos elucidar acerca dos termos na reforma para que tenhamos argumentos sólidos e um espírito crítico livre de qualquer influência midiática que nos faz louvar o suposto heroísmo que não conhecemos. Sabendo os termos desta, teremos maior responsabilidade e acarretaremos apenas sabedoria através da nossa natureza questionadora.
A morosidade deve ser combatida através da consciência política. Ulysses Guimarães afirmou que “quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida”. Hoje escutei duas mulheres conversando, debatiam sobre a parcialidade da professora de sociologia, que declarando ser de determinada religião, criticava as demais. Ora, todos têm a capacidade de perceber a propensão alheia, porém são raras as pessoas que a percebem em nós mesmos. Se as alunas professassem da mesma fé que acomete a professora, provavelmente não questionariam a postura da mesma. Ao criticar a socióloga, uma das alunas disse: “a professora me ofereceu um convite pra assistir a uma palestra sobre política de camarote. Se fosse pra um show da Claudinha Leitte, não ofereceria”. Avalia-se aí o teor crítico e os critérios relevantes da aprendiza, estudante de psicologia.
A reforma trata de tais temas: voto em lista (O eleitor vota nos partidos e não mais nos candidatos. O partido por sua vez, escolhe os nomes que bem lhes aprouver para ocupar as cadeiras conquistadas nas eleições); financiamento público (além do Fundo Partidário, dinheiro que os partidos recebem do estado para se manter, os contribuintes passam a bancar também as campanhas eleitorais); fim das coligações nas eleições proporcionais (Eleições proporcionais são para deputados estaduais, deputados federais e vereadores. E eleições majoritárias são para presidente da República, governadores, senadores e prefeitos. Pelo sistema proporcional, as vagas são distribuídas conforme a quantidade de votos de cada partido político); fidelidade partidária (A proposta aprovada no Senado determina que, para ser candidato, o político precisa estar filiado ao mesmo partido há pelo menos três anos. Hoje, esse prazo é de apenas um ano); cláusula de barreira (A chamada cláusula de barreira determina restrições na partilha do fundo partidário e no horário público de propaganda eleitoral para o partido que não obtiver 5% dos votos para deputado federal em todo o país e/ou 2% dos votos para deputado em pelo menos nove unidades da Federação. Além da diminuição da propaganda e dos recursos financeiros, os pequenos partidos também não terão pleno funcionamento parlamentar, ficando impedidos de indicar líderes ou nomear integrantes para comissões); fim do voto secreto no congresso (É o fim das votações secretas no Congresso. A Câmara dos Deputados aprovou emenda constitucional estabelecendo a mudança. A medida vale para as eleições da Mesa Diretora da Câmara e do Senado, para a votação de vetos presidenciais, para a cassação de mandato e a indicação de embaixadores. A proposta ainda depende de votação no Senado); voto facultativo para o povo (É a possibilidade que tem o cidadão de comparecer, ou não, à votação. Opõe-se ao voto obrigatório, adotado no Brasil); Eleição de suplentes para senador (Cada senador é eleito com dois substitutos denominados suplentes. O voto nos dois suplentes é chamado de voto “cego” porque os candidatos são desconhecidos e não aparecem na campanha eleitoral. Também não há critério para a escolha do candidato. São indicados parentes do candidato a senador ou financiadores da campanha. Nesse último caso, podem prevalecer interesses espúrios, como acordos para a divisão do tempo do mandato. Resultado: o eleitor não se pronuncia diretamente sobre os nomes dos candidatos a suplentes, mas acaba surpreendido pela presença deles no plenário do Senado) e mudança no sistema eleitoral (Adoção do voto distrital. O voto distrital é um sistema pelo qual o eleitor não tem a liberdade de votar em qualquer candidato. Pode votar apenas nos candidatos inscritos pelo seu distrito. Dizem que ele funciona melhor nos países que têm somente dois partidos políticos. No Brasil, a criação de partidos políticos é livre. Ou seja, aqui vigora o pluripartidarismo).
Pense a respeito das questões abordadas pela reforma. Adote uma postura referente ao tema e debata com seus amigos. A mudança de tais questões diz respeito a todos nós, posto que influenciem diretamente no nosso dia a dia. Qualquer opinião é bem vinda, desde que seja fruto da liberdade de pensamento. Vamos fazer a nossa parte para formarmos uma sociedade mais justa e digna para nossos descendentes.

Vocação I


É preciso haver paixão... A paixão que nos faz pensar que tudo o que vivemos vale algo mais; a paixão que nos faz levantar com um ânimo renovado a cada manhã e que nos deixa perplexos diante das mais simples venturas do cotidiano. É necessário que tenhamos em nossas vidas a chama que nos leva do chão à metafísica realidade de não pensar em nada além do que se é banal. É preciso observar a dosagem das nossas obsessões, para que no fim, não sejamos apenas círculos infinitos de desejos e decepções.
Há tempos não compreendemos o significado da palavra vocação. Vocação vem do latim vocacio, que significa “chamado”. A vocação significa, entre outras atribuições, um forte impulso ou inclinação para exercer determinada atividade ou carreira. Ora, o desuso desta palavra é tão somente o espelho das nossas relações profissionais, que tomaram um sentido inercial rumo ao distanciamento das nossas convicções e desejos.
O chamado que outrora era fator de decisões, hoje é suprimido de tal forma, que não o percebemos mais. Podemos dizer que o mercado de trabalho, retratando os moldes da nossa sociedade, nos coagiu de forma encantadoramente passiva, causando assim uma imensa demanda focada em setores carentes de mão de obra qualificada, de quando em vez, que nos promete lucros substanciais, mas que não se preocupa com o bem estar social. É o capitalismo nu e cru.
Fazer o que se gosta é uma utopia, que só se fundamenta através de realizações encomendadas por uma ditadura interior. Os olhos têm mais poderes que as leis. Poderia citar milhares de ofícios abandonados em nome do progresso e não seria de mal grado citar inúmeros cursos que são criados a cada dia para preencher as lacunas abertas pelo crescimento desenfreado que nos cerca. Contudo, os talentos que estão por vir, nada mais são do que ferramentas intelectuais. Uma nova revolução é desenhada nos moldes da revolução industrial. Jovens são direcionados às universidades e aos cursos técnicos que são convenientes para o mercado, que por sua vez, seleciona entre eles, novos prodígios.
E assim vamos seguindo nossas vidas... Profissionais cada vez mais qualificados e menos talentosos, o triunfo da técnica sobre o desejo disciplinado. A linha de montagem das nossas vidas passa por uma reestruturação desnecessária, mas de grande conveniência àqueles que comandam as mídias e governam em nome dos grandes empresários. Fazem o que lhes convém e permitem que se possa sonhar. Sonho que se sonha junto, mas que está longe de se tornar realidade. Quod nimium est laedit*.

*O que é excessivo prejudica.

Fascinação


A violência é tão fascinante... Um morador de rua foi jogado, na noite do dia 6 de Abril, em uma fogueira na zona norte de São Paulo. Um homem. 40 anos de história pra contar. Um homem. Jogado por nada em uma fogueira.
É estranho dizer que não se sabe o porquê do ato de crueldade, pois não estou ainda acostumado com estas atitudes. É estranho pensar que há ainda – ou porque não dizer, cada vez mais – indivíduos que praticam tais atos à sombra da lei. Ora, o estado nada faz para garantir os direitos do cidadão? Não venham dizer que a polícia está à procura dos culpados e que há uma mobilização da força para que estes fatos não voltem a acontecer. Mentira! Aliás, se for verdade, é pior ainda. Incompetentes!
Até quando teremos medo do terror e da polícia ao mesmo tempo? Vivemos entre a cruz e a espada e nada aponta para uma melhora significativa. Porra, é de perder a compostura! Como diz meu ídolo Ricardo Eugênio Boechat, “Porrada na cambada! Guilhotina nessa cambada”! Eles um dia vão aprender a respeitar o povo do Brasil!
Que me perdoem os moralistas, não pude evitar o palavrão. Estou farto e certamente não sou o único. São sempre as mesmas desculpas e sempre as mesmas soluções, que nunca são cumpridas como se deve. Faço questão de salientar as palavras da colunista Mirian Leitão, “não revoguem nossa inteligência”. Por alguns instantes chego a desejar que os atirados nas fogueiras pelo Brasil afora, sejam os senhores, que são uma corja de assassinos maquiados pela máquina pública. Senhores governantes, a cada crime hediondo que ocorre, há uma parcela de culpa de vossas excelências. Ou os senhores acham que ninguém percebe o que se passa na esplanada?
E nossas vidas são tão normais... Os jornais estampam as notícias como se nada fossem. A rotina nos consome de tal forma que não temos mais tempo – ou não nos é conveniente separar algum – para pensar a respeito de tais coisas. Coloquem-se no lugar dos familiares. Coloquem-se nas calçadas, sentados observando os transeuntes e pensando: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Não bastasse a humilhação de pedir algum trocado para as pessoas que passam, ainda tem que conviver com o medo constante de ser agredido.
No Rio de Janeiro, as famílias que ficaram desabrigadas devido ao desabamento do morro do Bumba, em Abril de 2010, abandonaram os abrigos e foram para as ruas, devido às condições precárias nas quais se encontram os mesmos. Observem bem... As ruas são melhores que os abrigos oferecidos pelo estado. Aonde entra nesta questão o direito à dignidade estabelecido pela constituição? Por um momento eu quase me esqueci... Os senhores não se preocupam com a constituição, a não ser que a mesma defenda os seus direitos. Um dia eu aprendo a não me preocupar...

Há tempos


Sociedade. A palavra deriva do latim societas, “uma associação amistosa com os outros”, que por sua vez deriva da palavra socius, que significa “companheiro”.
Ana Cláudia Karen Lauer, estudante de enfermagem, foi agredida por três colegas de classe após apresentar denúncia à direção, de que seria vítima de bullying. Segundo a mãe de Ana Cláudia, Cláudia Lauer, a estudante está muito abalada. “Está com muita dor, não está conseguindo respirar por uma das narinas e está ouvindo a voz da menina (agressora) a todo momento”. Segundo o depoimento da vítima, duas alunas começaram a discutir com ela ao final da aula e uma terceira aluna a agrediu com um capacete de motociclista.
Ora, o artigo 5º da Constituição Federal no seu inciso III diz o seguinte: “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. O inciso protege a existência digna, alinhado com os tratados internacionais. A Lei nº 9.455/97 definiu os crimes de tortura. Trata-se de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, acarretando-lhe sofrimento físico ou mental. Sendo assim, as agressoras de Ana Cláudia deveriam ser indiciadas pelo crime de tortura, assim como outros infratores adeptos da prática do bullying.
Não há muito tempo atrás, éramos vítimas de uma ditadura repressora que partia do governo e que nos marcava como sociedade e seres humanos, pois tínhamos nossos direitos básicos tolhidos e fomos ameaçados e torturados por não compactuar com a barbárie que nos cercava. Infelizmente, o brasileiro se acostumou com as brincadeiras de mau gosto que são praticadas nas escolas e não menos frequentemente, no trabalho.
A brasileira Licia Faithful, funcionária de uma empresa de seguros na Inglaterra, ganhou uma indenização de 140 mil libras (cerca de 380 mil reais), por ter sido chamada de ‘Bob Esponja’ e zombada pelo seu sotaque, segundo informa o site Daily Mail. A justiça inglesa entendeu que ela sofreu discriminação racial.
Renato Russo já dizia que “há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade”. É valido fazer aqui um questionamento. Como surge nos jovens de hoje essa necessidade desenfreada de oprimir aos colegas? Creio que em grande parte a culpa seja do nosso formato praticista e lógico de enxergar a vida. A competição desmedida que vivemos no ambiente profissional e sentimental gera uma insegurança social que culmina na violência. O aluno de medicina que esfaqueou a colega de classe após ter sido rejeitado é um exemplo disso tudo. Não lhe parecia aceitável a idéia da resignação. Sucesso e realização profissional não lhe eram suficiente.
Na Inglaterra, a justiça fez valer os direitos individuais. Licia entrou em depressão profunda após ser submetida durante 18 meses ao abuso moral e ao bullying. Podemos esperar que no Brasil o judiciário adote medidas igualmente drásticas? Observemos que o Brasil é tradicionalmente um país que utiliza das artimanhas jurídicas para favorecer inúmeros atos infracionais. Contudo, há uma crescente tentativa de moralização dos nossos atos judiciais. Alcançaremos o ponto de equilíbrio que nos é devido pelo Estado de Direito?
Acompanhe o desenrolar do caso Ana Cláudia. O comportamento violento e opressor deve ser banido do nosso cotidiano. A Carta Magna nos assegura enquanto cidadãos brasileiros, basta que o judiciário faça valer nossas garantias. As forças do Estado e da justiça são proporcionais ao comprometimento da sociedade.



“Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira“...

Renato Russo

Terra de Gigantes


O deputado Jair Bolsonaro que me perdoe, mas não consigo sequer compreender a justificativa apresentada por ele, quando questionado a respeito das declarações veiculadas através do programa CQC, da rede Bandeirante. Bolsonaro tinha dito à cantora Preta Gil, ao ser questionado sobre o que faria se algum dos seus filhos namorasse uma negra, que “não discutiria promiscuidade com quem quer que seja”. Disse também que não corria esse risco, pois seus filhos tinham sido muito bem educados e não conviveram no mesmo ambiente que a cantora e que seus filhos não são gays porque tiveram boa educação. Bolsonaro deixou a politicagem de lado e declarou que os presidentes do período da ditadura militar, são gurus da política e que se dependesse dele, Dilma Rousseff jamais seria presidenta da república.
Ora, durante anos lutamos pela vitória da liberdade sobre a opressão. Vivemos anos calados, com as nossas cabeças baixas e olhos apáticos. A ditadura nos deixou um legado que agora tem que ser extirpado da sociedade. O brasileiro se acostumou a escutar calado, a ponderar em demasia e não poucas vezes, aprendeu a se submeter à opinião alheia. Contudo podemos perceber que são duas coisas diferentes, o respeito e a submissão.
O deputado tem que perceber que o povo brasileiro não quer mais ouvir calado, que o povo agora tem voz e que esse tipo de declaração fere os princípios individuais. O direito à opinião e ao pensamento próprio devem ser respeitados, mas não venham chamar de censura o respeito que é devidos aos demais cidadãos. A ofensa pública, ainda que velada, marca e fere. Quantos cidadãos já se cansaram dessa ditadura que é percebida de maneira conivente por parte da igreja e das correntes extremistas do mundo cristão? Isso, meus caros, é terrorismo e não se diferencia em muito das atrocidades cometidas por radicalistas islâmicos ao redor do mundo.
Quem são vocês, senhores da discórdia e do preconceito, para criticarem as atrocidades cometidas durante o regime nazi-fascista europeu? Não neguem! Essa história de “abominamos o pecado, mas amamos o pecador” não cola mais. Acaso, os senhores tirariam suas filhas da presença dos mentirosos, gulosos, adúlteros, ladrões do colarinho branco, mesmo que soubessem quem são eles? Acaso os senhores tapariam os olhos dos seus filhos ao passar na porta de um prostíbulo? Hipócritas, é isso o que os senhores são. Se analisarem bem, perceberão que toda essa moralidade não se aplicaria nem mesmo aos senhores, que teriam inevitavelmente que se afastar dos próprios filhos, por conta de necessária retidão.
O deputado Marcos Feliciano, pastor da Assembléia de Deus, disse: “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é a polêmica. Não sejam irresponsáveis, twitters”... É inacreditável. Fato não é, pois nunca foi comprovado. Não há quem possa dizer com respaldo cientifico que existiu Noé ou tão pouco a maldição que o mesmo haveria rogado sobre o continente africano. Como se não bastasse a arrogância com a qual tratou o assunto, o pastor emendou: “... Não sejam irresponsáveis, twitters”, demonstrando assim toda a autoridade que é atribuída a quem tem ao seu lado a razão, a responsabilidade e a não menos significativa prudência.
Algum dia, não muito distante (assim espero), conseguiremos abrir a janela dos nossos lares e as portas da nossa mente sem medo de respirar o ar que respiramos, e que está cheio de opiniões tortas e opressoras; que está cada dia mais poluído não somente por conta dos males causados ao meio ambiente, mas também pela sujeira que brota da mente humana. O respeito é a base do relacionamento interpessoal e não há nada que consiga substituir o calor de um sorriso sincero ou um abraço afetivo. Opiniões relevantes acerca de temas polêmicos são sempre bem vindas, desde que não ofendam ou destratem o objeto das discussões, seja ele qual for. O racismo ou o preconceito não são mais temas relevantes há tempos, posto que parece claro que não podem haver atitudes relacionadas aos mesmos. Pensamentos retrógrados como esses demonstrados pelos nossos ilustres representantes são o motivo pelo qual estamos vivendo inseridos em uma sociedade inescrupulosa que só preza pela sua destruição.
Quem votam, são vocês, cidadãos. Pensem bem antes de tomar tão importante decisão. A consequência do pecado é a morte, já diziam os religiosos. Pecado pode significar, segundo o dicionário, faltar a uma regra moral, a um dever social. Os senhores estão em dia com seus deveres sociais?